domingo, 17 de fevereiro de 2008

O Brasil que a gente quer (sem clichês) - Parte 2


Como no post anterior eu disse que o Brasil precisava de mais participação pública, hoje, a idéia é trazer mais um problema e, junto com ele, uma possível solução.
O problema de hoje: Educação.
Claro que é extremamente comum ouvir pessoas falando que a educação tem que melhorar e que sem educação o país não "vai pra frente". Concordo. Mas pensando nisso, resolvi fazer uma pequena comparação com o que se tem na educação hoje, e o que se tinha no passado, e cheguei numa conclusão meio inesperada.
Fazendo uma pequena pesquisa boca-a-boca, com meus pais e amigos adultos, percebi que muitos deles se formaram em escolas públicas, e falavam que a mesma era ótima. Melhor do que as particulares. Hoje, os adultos que perguntei são médicos, engenheiros, professores e por aí vai. Mas espera. Se a educação, no passado, era boa, por que cargas d'agua foi piorar e chegar em níveis tão deploráveis quanto os de hoje?
Pensando nessa pergunta, não consegui chegar a uma resposta, não sem pensar bastante. Vejam bem, os investimentos destinados à educação, naquela época, eram consideravelmente menores, o salário dos professores, menor, e a inflação absurda. Ou seja, o professor ganhava mal, tudo era mil vezes mais caro, o investimento na área era menor, e ainda assim o ensino era bom? Como?
Se o problema não é os professores, nem o investimento, seria a atitude do aluno de hoje que atravanca o progresso educacional?
Chegando em mais uma pergunta, e esse post vai ser cheio delas, comecei a pensar em minha escola, que é particular, para ter uma base, além de pensar na atitude dos alunos.
Percebi que o comportamento de alguns alunos é deveras comprometedor, e atrapalha o desenvolvimento da aula e, futuramente, o intelecto nacional, mas será que a escola pública é da mesma forma? Perguntei para uma colega que estuda numa instituição de ensino federal, para saber como era a atitude dos alunos de lá. E vi que a coisa esta mais ou menos no mesmo nível. Claro que não podemos generalizar, mas já da para ter uma base de como deve ser as outras escolas.
Alunos que não estão interessados, atrapalham os professores que querem dar aulas, e desestimulam os alunos que estão comprometidos em aprender, e aí, somos levados para aquela famosa "bola de neve". Então, a atitude dos alunos, de fato, piorou. Uma fatalidade.
Apenas para exemplificar o que estou dizendo, resolvi publicar aqui, um relato de uma professora da rede federal, condenando a atitude de um aluno que, aqui, se chamará, simplesmente e sem rodeios, "aluno":
"O aluno 'aluno' se comporta mal, e não faz nenhuma atividade dentro de sala. Quando questionado sobre o exercício, ele responde com um vocábulo muito comum: 'oda-se'. 'Aluno', junto com seus colegas, causam o maior transtorno dentro de sala de aula, e atrapalham o pequeno grupo que está comprometido com o aprendizado."
Esse pequeno trecho foi retirado apenas para provar que muitos alunos simplesmente não querem aprender. Tem outras prioridades em mente, talvez ser lixeiro, ou coisa do tipo...
Saindo um pouco desta vertente de pensamento, chego numa outra que, ao meu ver, é mais abrangente. A exclusão. Não somente no setor público, ou em camadas populares, mas a exclusão em toda sua concepção e escalas.
Um aluno que, por algum motivo, não tem as condições adequadas para estudar, simplesmente não estuda. Aí chegamos naquele ponto criticado por todos: Falta investimento na educação.
Não acredito que faltam investimentos, apenas acho que a educação deve ser encarada, pelo governo, com mais seriedade. Já passou da hora de gastar dinheiro com "bolsa-qualquer coisa" e percebermos que a única forma de desenvolver o Brasil, é através do estudo. Aí vai minha sugestão para o problema que pode "matar dois coelhos com uma cajadada só": Corte o investimentos em programas assistenciais como "bolsa-familia", "bolsa-escola" e etc, e transfiram para comprar mais material didático, reformar as escolas que estão caindo em pedaços, e construir novas.
Muitos falarão que minha idéia de se cortar tais programas, só é expressa aqui porque eu não preciso de ganhar este dinheiro todo mês para comer. De fato, é isso mesmo que acontece, mas eu tenho uma outra visão para lhes apresentar, que é fortemente apoiada por filósofos, sociólogos, e antropólogos, não só nacionais, mas internacionais, e que tem grandes exemplos que podem ser seguidos.
Para demonstrar essa visão, vou utilizar o exemplo chinês, já que a China é, dadas as devidas proporções territoriais, parecida com o Brasil. Cerca de dez anos atrás, o governo chinês implantou um programa diferente para estimular o aprendizado de sua população que vivia na miséria. Colocar, nas estações de metrô, pontos de ônibus, e nas escolas, uma espécie de prateleiras que tinham as notícias mais comentadas do dia, e algumas regras de mandarim e alguns fatos curiosos sobre a história local. Juntamente com isso, o governo chinês começou a contratar operários desempregados para reformar todas as cidades importantes, por assim dizer. Isso instigou a curiosidade dos dos cidadãos a aprender mais sobre a sua história, e seu idioma. O único lugar no qual eles poderiam aprender isso, seria na escola, então, uma enxurrada de matriculas nas escolas públicas começaram a ser feitas, e os alunos, de todas as idades, começaram a estudar. Com as contratações, hidrelétricas, ferrovias, estradas, prédios, centros esportivos e escolas foram construídos, o que fez da China o país que mais cresceu em infra-estrutura na última década. Fato é que, dez anos depois, a China cresce 5,5% todo ano, tem melhorado seus indicadores sociais, e a estrutura do país é invejada por muitos países, inclusive alguns desenvolvidos, e o país atrai bilhões de investimentos todos os dias.
Outro exemplo de que encarar a educação com seriedade pode dar certo, é o caso espanhol. Há cerca de cinco anos atrás, o governo catalão quase que triplicou seus investimentos em educação, e criou leis que incentivavam empresas privadas a investir em institutos de pesquisa, seja científica, ou social. Além dessas leis de incentivo, outras leis foram criadas com objetivo de alavancar o números de alunos nas escolas, algumas delas, inclusive, obrigava os pais a matricular os seus filhos em alguma instituição de ensino. Visto com uma certa desconfiança no principio, a Espanha, hoje, ocupa a décima terceira posição no índice de desenvolvimento humano, subindo mais de cinco posições desde o último cálculo. Enquanto o Brasil ocupa a vergonhosa septuagésima posição.
Todos esses exemplos são válidos, já que mostram duas áreas de atuação semelhantes, mas com iniciativas diferentes. O que falta mesmo para que nossa educação atinja níveis elevados quanto a dos países campeões, como a Espanha, por exemplo, é entender que sem ela, não nos desenvolveremos. Então, é melhor o país começar a vislumbrar mudanças no seu panorama educacional, ou então as conseqüências a longo prazo serão catastróficas.

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